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Tá com medo, por que veio?


Saíamos juntos havia uns meses. Sexo bom, cerveja e risadas. Dormir de conchinha, conversas sobre a vida e, no dia seguinte, cada um pro seu lado. Sinceramente, eu não pensava em namoro – namoro, com todo o peso que o nome tem. Mas se conquistei a intimidade com alguém interessante, com o humor parecido com o meu, que me satisfazia na cama, era amigo, educado e gentil, tudo tão gostosinho, pra quê ficar caçando na rua?

Notei então o sumiço dele. Não atendia os meus telefonemas, não respondia as minhas mensagens. Muito estranho. Até que um dia, no aniversário de um amigo em comum, ele surge, com uma loira sem graça ao lado. Sem graça mesmo, picolé de chuchu, não é dor de cotovelo. Soube então que era a namorada dele havia dois meses, uma alemã que controlava sua bebida, as partidas de futebol e não gostava de seus amigos.
“O que é isso, companheiro?” Foi tudo o que me veio à mente naquele momento.
O climão era evidente, o cara estava sem ambiente, tentando fazer a ponte entre ela e seus amigos, sem sucesso. Sentada à mesa, a menina não conversava com ninguém e pedia para ir embora enquanto todos – eu inclusive, como sempre – papeavam animadamente.
O relato dos amigos confirmava a minha primeira impressão: “Ela não tem nada a ver com ele, é uma chata que não faz o mínimo esforço para se entrosar ”. Eu havia sido trocada por um maço de brócolis.
Meses depois, encontrei-o, sozinho, para ouvir a ladainha: “Acho que não fui legal contigo, eu não estava preparado. Você é uma mulher sensacional, nunca te esqueci”.
Tarde demais. Além de me trocar por um ser inexpressivo, a pior sensação é a de abandono, a de que você é tão insignificante que nem uma satisfação mereceu.
“Não quero mais”, “Quero focar no meu trabalho”, “Conheci outra pessoa”, “Desencanei”, “Você tem bafo”. QUALQUER explicação, uma única frase, mesmo que mentirosa, serviria para eu respeitar a decisão dele e sair fora, mantendo a amizade e lembrando com carinho tudo o que vivemos. Mas tal atitude – ou a falta dela – só fez me afastar, não deixando nenhuma brecha para uma eventual noitada flashback, quem sabe.
A ESTRUTURA, CARO…
Esse é apenas um relato de outros similares que me ocorreram. E minhas amigas não me deixam mentir: toda mulher tem um desses para contar, e é engraçado observar que, salvo muito poucas exceções, a covardia masculina se repete.

Ailton Amélio, professor do Instituto de Psicologia da USP e autor do livro Relacionamento Amoroso (PubliFolha, 304 págs.) dá uma luz: “Tem gente que não tem estrutura para assumir compromisso com parceiro de personalidade igual ou mais forte, daí prefere alguém a quem pode dominar, sobrepor sua personalidade, influenciar”.
COVARDIA ? PREGUIÇA?
Em uma quinta-feira a noite – o Santos tocava 8×0 no Bolívar – recorro ao jornalista Xico Sá, cronista das vicissitudes masculinas, para aliviar minha dúvida: “A fuga e a preguiça de vínculo com qualquer história são características do macho contemporâneo”, disparou.

Não estamos aqui falando de uma relação eterna, mas de experimentar um “plus a mais”, sem correr quando tudo está ficando muito bom.
“O homem se ilude com a solteirice, acha que o barato é catar várias. A grande covardia é sequer experimentar. Tenho amigos de 40 e poucos anos que nunca tiveram a experiência de uma relação minimamente duradoura”, explana Xico.
É disso que estou falando.
O que não me conforma é o fato de os caras acharem que toda mulher, necessariamente,  quer namorar, “encoleirar”, submeter o homem.
“Só de pensar em estabelecer uma relação, eles acham que estão condenados, como se toda mulher quisesse casar. As mulheres estão cada vez mais parecidas com a gente, também querem curtir, só que deixam a coisa acontecer. É uma frouxidão sem explicação!”, diz Xico.
Estar com alguém é um exercício de autoconhecimento, de troca, uma experiência para reforçar a autoestima e exercitar o equilíbrio. E leva a transar melhor, claro, já que é fato: homem bom de cama é o que já teve namorada. Porque só com intimidade se conhece as peculiaridades comuns à maioria das mulheres.
“Quem vive na clandestinidade nunca vai saber o que é sexo de verdade. A grande pornografia está na intimidade. Quando a mulher está envolvida, ela é capaz de tudo para lhe dar o maior dos prazeres. E muitos homens desperdiçam isso!”, arremata o cronista.
Há os que têm medo de sofrer. Traumatizados por relacionamentos anteriores, começam a dar desculpas assim que a garota propõe o terceiro encontro, em média. “Estar junto de alguém é negociar a todo momento. E, claro, passar pelo ciúme, medo, abdicação, desgaste e tudo o que um relacionamento a dois pode acarretar. Tem gente que já foi sufocada, já abriu mão de tanta coisa, que não quer passar por isso de novo. Assim, prefere as relações sem compromisso”, explica Amélio.
Como já dizia Vinícius, o amor só é bom se doer. O sofrimento faz parte da vida. Sofrer por sofrer, você também vai sofrer sozinho numa noite gelada, ou na falta de alguém que compartilhe histórias suas de anos atrás. Dormir de conchinha, ter piadas entre si, receber uma massagem naquele ponto específico das costas são recompensas que fazem uma relação mais densa valer a pena.
COMO ARARAS-AZUIS
Darwin que me perdoe, mas todo mundo sabe que a ideia do sexo para a proliferação entre as espécies caiu entre nós faz tempo. Há milênios o ser humano pratica descompromissadamente o sagrado rala e rola, que, além de nos proporcionar o mais arrebatador dos prazeres, também é praticado pelo simples fato de sermos animais gregários: tal como as araras-azuis e os coalas, nascemos para viver a dois. Assim, a formação de casais é universal e inerente à condição humana: não existe sociedade que não tenha sido construída na noção da existência de pares.

Sendo assim, nem eu nem você seremos felizes se fugirmos completamente disso. Eu, por exemplo, já tive a plena certeza de que seria um ser sozinho neste mundo, tendo companheiros esporádicos ao longo da vida. O coração livre não sofre, pensava. A resolução veio de não querer repetir um relacionamento besta, que, embora me trouxesse muito carinho e troca, não me fazia perder os sentidos.
Ainda assim, hoje avalio e vejo o quanto valeu a pena, sobretudo porque me preparou para o relacionamento estável e completo que tenho hoje. Fui lapidada em questões como ceder, compartilhar, cuidar, amar. E se fundamental é mesmo o amor, a fila do banco, a praia, as festinhas e os amigos dos amigos estão aí para jogo.
Agarre-se ao maravilhoso subterfúgio de nossa sociedade moderna – que nos permite experimentar e largar – para justamente aprofundar mais as suas relações.
FORA DO EIXO? YESSS…
Foi numa dessas que eu – independente, escolada e resolvida – me joguei nas graças de um gataço barbudo oito anos mais novo. Desarmada, só fui perceber que não nos desgrudávamos desde o dia em que nos conhecemos quando decidimos morar juntos, dois meses depois. Hoje, ao sentir meu coala macho me segurando, balbuciando juras de amor já caindo no sono, reconheço o quão defensivas e sem sentido eram minhas palavras. E mesmo morrendo de medo – de quebrar a cara, de não dar certo, de me machucar (oito anos mais novo, lembra?) –, sentir-se amada
é a melhor coisa do mundo.

A postura na defensiva é compreensível. Não raras vezes apostamos alto em sentimentos que podem ser turvos e imprecisos. Mas não dá para fazer como no filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e apagar tudo o que você construiu da pessoa que já não quer mais. A vivência dessas experiências precisa ser encarada de outra forma – e não é fugindo de relacionamentos que resolvemos nossas inseguranças. Uma hora encontramos a tampa que fecha a nossa panela.
E foi aí que entendi que o picolé de chuchu tinha algo que eu simplesmente não podia oferecer! O cara não se apaixonou por mim e só não soube como me dizer. Ponto.
O filósofo francês Gilles Deleuze disse uma vez que você só se apaixona por alguém quando capta uma fração de sua loucura. “E todos nós somos meio dementes. Fico feliz em constatar que o ponto de demência de alguém seja a fonte de seu charme”, declarou.
Há quanto tempo você não se apaixona?
Pois mesmo que isso mexa com seu mundo, tire você do eixo, traga sentimentos difíceis como medo, ciúme, obsessão (eu tenho todos eles), não perca a oportunidade. Só aprendendo a lidar com isso seremos seres completos.
Matéria publicada na Revista Men’s Health de junho de 2012.

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