Logo agora, quando entra em vigor no Brasil a emenda constitucional permitindo o divórcio 24 horas após a divulgação da sentença de separação - antes era necessário um ano -, sai uma pesquisa coordenada pela médica Rose McDermott, da Universidade Brown, em Providence, nos Estados Unidos, iniciada em 1948. Segundo ela, quando um casal decide divorciar-se, ocorre um efeito cascata nas pessoas com as quais convive, sejam colegas de trabalho, sejam familiares e amigos. Nestes últimos, o risco de separação aumenta exatos 75%.
Os pesquisadores não souberam explicar por que a felicidade conjugal dos amigos vai para o paredão, numa espécie - diríamos nós - de desnudamento das convenções, revelação das verdades ocultas, à maneira do radical filme do diretor espanhol Louis Buñuel O Anjo Exterminador. Aliás, outro filme, este mais recente e menos complexo, precedeu as conclusões da universidade americana: quem se lembra de Jantar com Amigos, de Norman Jewinson (74), com Dennis Quaid (56), Andie MacDowell (52), Greg Kinnear (67) e Toni Collette (37) formando dois casais? A fita mostra a turbulência que um casal feliz começa a atravessar após o divórcio dos melhores amigos.
Então, apesar de os americanos serem loucos por uma pesquisa, pode existir algum fundamento na influência. Um casal que se divorcia mostra inicialmente dois elementos óbvios, porém nem sempre percebidos por todos: um casamento pode fracassar e, neste caso, o casal não precisa ficar prisioneiro da infelicidade, tendo a chance se separar. E o pioneiro divórcio do casal amigo funcionaria como uma espécie de senha para a tomada de decisão. No extremo, pode vir o raciocínio dos que estão insatisfeitos: "Se eles podem se separar, por que eu também não posso?"
A influência pode ocorrer em especial se o casal que se separa é visto como modelo de felicidade ou atuava como liderança de um grupo de casais: com a separação deles, as referências desmoronam. Um deles, ou ambos, eram sentidos como personalidades carismáticas e serviam como um elo que mantinha todos juntos, ou de espelho do narcisismo dos casais amigos, que se quebra, deixando a nu o vínculo que os une. Passam a olhar mais para si, a indagar se são felizes juntos, e o sentimento de estar errados pode aumentar à medida que outros casais amigos começam a separar-se.
Mas é preciso refletir e separar o joio do trigo, pois, no complexo mundo das relações humanas, os indivíduos estão o tempo todo se percebendo entre si, "copiando e colando" aspectos alheios. Isso se chama identificação, mas no extremo há o fenômeno da imitação. Por isso é preciso um filtro para discernir as influências: por mais que haja problemas comuns, as relações de casais nunca são iguais. As pessoas têm sentimentos diferentes, capacidades distintas de lidar com as frustrações.
Na separação do casal, são naturais as revelações aos amigos da nova vida de solteiro, a negação do luto e os exageros dos recentes prazeres, o que pode encher os olhos dos descontentes. Os mais vorazes encontram na inveja combustível para se separar também. Mas a pesquisa não mencionou casos em que o casal-estopim das separações, ironicamente, resolve se juntar de novo, nem o efeito disso. A hipótese é suficiente, porém, para notar o caráter pessoal e singular de cada relação: seu destino deve brotar de critérios exclusivos do próprio casal.
Os pesquisadores não souberam explicar por que a felicidade conjugal dos amigos vai para o paredão, numa espécie - diríamos nós - de desnudamento das convenções, revelação das verdades ocultas, à maneira do radical filme do diretor espanhol Louis Buñuel O Anjo Exterminador. Aliás, outro filme, este mais recente e menos complexo, precedeu as conclusões da universidade americana: quem se lembra de Jantar com Amigos, de Norman Jewinson (74), com Dennis Quaid (56), Andie MacDowell (52), Greg Kinnear (67) e Toni Collette (37) formando dois casais? A fita mostra a turbulência que um casal feliz começa a atravessar após o divórcio dos melhores amigos.
Então, apesar de os americanos serem loucos por uma pesquisa, pode existir algum fundamento na influência. Um casal que se divorcia mostra inicialmente dois elementos óbvios, porém nem sempre percebidos por todos: um casamento pode fracassar e, neste caso, o casal não precisa ficar prisioneiro da infelicidade, tendo a chance se separar. E o pioneiro divórcio do casal amigo funcionaria como uma espécie de senha para a tomada de decisão. No extremo, pode vir o raciocínio dos que estão insatisfeitos: "Se eles podem se separar, por que eu também não posso?"
A influência pode ocorrer em especial se o casal que se separa é visto como modelo de felicidade ou atuava como liderança de um grupo de casais: com a separação deles, as referências desmoronam. Um deles, ou ambos, eram sentidos como personalidades carismáticas e serviam como um elo que mantinha todos juntos, ou de espelho do narcisismo dos casais amigos, que se quebra, deixando a nu o vínculo que os une. Passam a olhar mais para si, a indagar se são felizes juntos, e o sentimento de estar errados pode aumentar à medida que outros casais amigos começam a separar-se.
Mas é preciso refletir e separar o joio do trigo, pois, no complexo mundo das relações humanas, os indivíduos estão o tempo todo se percebendo entre si, "copiando e colando" aspectos alheios. Isso se chama identificação, mas no extremo há o fenômeno da imitação. Por isso é preciso um filtro para discernir as influências: por mais que haja problemas comuns, as relações de casais nunca são iguais. As pessoas têm sentimentos diferentes, capacidades distintas de lidar com as frustrações.
Na separação do casal, são naturais as revelações aos amigos da nova vida de solteiro, a negação do luto e os exageros dos recentes prazeres, o que pode encher os olhos dos descontentes. Os mais vorazes encontram na inveja combustível para se separar também. Mas a pesquisa não mencionou casos em que o casal-estopim das separações, ironicamente, resolve se juntar de novo, nem o efeito disso. A hipótese é suficiente, porém, para notar o caráter pessoal e singular de cada relação: seu destino deve brotar de critérios exclusivos do próprio casal.
por Paulo Sternick, revista caras.
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