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Sexo durante o envelhecimento


Com o envelhecimento surgem várias alterações fisiológicas que afetam diretamente a sexualidade das pessoas. A redução dos níveis de testosterona induzida pelo avançar da idade vai provocar nos homens uma redução do interesse sexual e da função eréctil. No caso das mulheres, embora exista também uma redução da produção hormonal, associada à menopausa, são os mitos associados à velhice que mais afetam o bem-estar sexual. Verifica-se que, com o envelhecimento, a frequência da atividade sexual para ambos os sexos pode diminuir, embora se mantenha o desejo sexual, as fases de excitação são mais prolongadas, mantendo-se a capacidade para alcançar o orgasmo, pode surgir dispareunia nas mulheres e disfunção eréctil nos homens, aumento do período refratário para os homens e encurtamento e estreitamento da vagina nas mulheres.
Embora as alterações fisiológicas tenham um impacto importante na vida sexual das pessoas, vários autores argumentam que são os fatores psicossociais que determinam a diminuição e insatisfação com a vida sexual na velhice.
Falar sobre sexualidade é tabu. Falar sobre sexualidade na terceira idade é um duplo tabu. As pessoas idosas constatam que, a sociedade em geral e a sua família e amigos em particular têm atitudes críticas quanto ao que é comportamento sexual aceitável nesta fase da vida.
Existe um duplo standard quanto à participação dos idosos na atividade sexual: se forem homens, o seu comportamento é humorístico e tolo; se forem mulheres, o seu comportamento é malévolo. Além disso, na sociedade atual, ser-se velho é estar à espera da morte, é ser decrépito e assexuado.
Estas crenças constituem obstáculos à vivência da sexualidade e vêm adicionarem-se a outros fatores limitadores tais como: falta de parceiro, ou parceiro desinteressante e desinteressado; disfunção sexual; atitudes preconceituosas dos filhos adultos; atitudes negativas dos idosos perante o sexo; histórico de experiências sexuais negativas; atitudes negativas dos pares; alteração da imagem corporal; perda de papeis e de funcionalidade; proibições religiosas; a falta de privacidade; existência de doença.
No entanto, e apesar destes obstáculos, a vida sexual dos idosos pode ser muito ativa e diversificada, envolvendo relações sexuais genitais, orais e/ou masturbação.
Para muitas mulheres o estar numa relação, à qualidade dessa relação e os problemas sexuais do parceiro são mais importantes do que a sua responsabilidade sexual. É, portanto uma questão de intimidade e não de sexo. Segundo Abbink (1983), a intimidade não diminui com o envelhecimento, mantendo-se não só através da relação sexual, mas também através do toque, carinho, beijos e partilha de afetos.
A intimidade e comunicação constituem o contexto mais favorável para a vivência da sexualidade na velhice, sendo que nesta fase da vida a atividade sexual se expressa também em múltiplas formas, sendo visíveis se a definição de sexualidade não se centrar apenas no coito. Estas manifestações podem não ser tão frequentes devido às atitudes negativas dos pares, familiares e da sociedade em geral que levam a que os idosos ocultem a vivência da sua sexualidade.
De modo geral, pode afirmar-se que os melhores preditos para a manutenção da atividade sexual na velhice são a existência de atividade sexual prévia (principalmente para os homens), o facto de se ter parceiro (principalmente para as mulheres) e a saúde mental e física.
À medida que envelhecemos, a ênfase excessiva no desempenho e na patologia negligencia outros aspectos da sexualidade que ganham relevância nesta fase da vida. É este o caso dos temas emocionais e espirituais que incluem o desejo, amor, compromisso, intimidade e autoestima.
Ogden, através da análise de cartas de homens e mulheres acima de 50 anos, relativas à sexualidade e espiritualidade, verificou que para aqueles entre os 70 e 80 anos os aspectos mais relevantes eram o amor, o compromisso e a sensação de ser um todo, para aqueles com 60 anos o mais importante era a aceitação e o humor e, aqueles com 50 anos realçavam a descoberta espiritual e a recuperação de experiências sexuais negativas. Um aspecto interessante deste estudo era a constatação de que a linguagem utilizada nas cartas se centrava na conexão, unicidade e transcendência e não tanto nos aspectos corporais.
Concluímos que é crucial para a vivência da sexualidade uma atmosfera de segurança física e emocional, comunicação aberta e a promoção da autoestima, expressão de carinho, empatia, amor, humor e entusiasmo pela vida.
Com tudo isto se conclui que a vivência ou não da sexualidade depende do casal em si e das suas preferências. Os avós também se apaixonam e desejam intimidade. Se enquanto há vida há esperança, então enquanto há vida, há sexo!

Psicóloga Vânia Cunha

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